Vivemos uma era em que a transformação das empresas vai muito além da digitalização. Hoje, cresce a consciência de que os conselhos, tanto os administrativos quanto os consultivos, precisam refletir a pluralidade do mundo em que atuam. Diversidade e inclusão deixaram de ser apenas pautas sociais para se tornarem ativos estratégicos, capazes de impulsionar performance e reputação.
A evolução do olhar sobre os conselhos
Tradicionalmente formados por perfis homogêneos — homens brancos, com experiência executiva, acima dos 50 anos — os conselhos começaram a ser pressionados por investidores, reguladores, clientes e pela própria sociedade a se abrirem à pluralidade de gênero, raça, idade, origem socioeconômica e background profissional.
Essa mudança não é superficial. Estudos apontam que conselhos diversos tomam decisões mais completas, reduzem riscos de pensamento único (o chamado “groupthink”) e ampliam o alcance estratégico das empresas. Na prática, a diversidade traz perspectivas que desvendam pontos cegos — habilidade essencial para conselheiros, como reforça Márcio Giacobelli, especialista com mais de 30 anos em governança empresarial.
Principais desafios na jornada da diversidade
Incluir não é apenas “colocar pessoas diferentes na sala”. É criar espaço real para que suas vozes sejam ouvidas, respeitadas e influenciem o processo decisório. O desafio está na cultura: conselhos ainda resistem à mudança, especialmente quando não há metas claras ou um compromisso institucional com a inclusão.
Além disso, muitas empresas cometem o erro de tratar a diversidade como um “checklist” de ESG. Isso gera iniciativas cosméticas que não se sustentam e, pior, podem comprometer a credibilidade da empresa.
Boas práticas para conselhos mais inclusivos
- Recrutamento estratégico: Ampliar o olhar na busca por conselheiros. Além de ex-CEOs e CFOs, considerar perfis de áreas como inovação, tecnologia, sustentabilidade e impacto social, mesmo sem experiência prévia em conselho.
- Onboarding estruturado: Garantir que novos conselheiros entendam a cultura e dinâmica da empresa, e que sejam acolhidos com suporte adequado para contribuir desde o início.
- Ambientes seguros para o diálogo: Promover conversas corajosas, incentivando a escuta ativa e a valorização de diferentes perspectivas — competências que, inclusive, fazem parte da formação de conselheiros consultivos modernos
Impactos concretos na performance e reputação
Empresas com conselhos diversos não apenas inovam mais, como também têm desempenho financeiro superior. Relatórios da McKinsey mostram que organizações com maior diversidade de gênero e étnico-racial em posições de liderança são significativamente mais propensas a superar seus pares em lucratividade.
Do ponto de vista reputacional, a diversidade comunica ao mercado que a empresa está alinhada aos valores contemporâneos. Isso fortalece a marca empregadora, atrai investidores de impacto e fideliza consumidores mais conscientes.
O papel dos conselheiros na construção desse legado
Cabe aos conselheiros atuais — especialmente aqueles em posição de liderança nos colegiados — liderar essa transformação com coragem e visão de longo prazo. Como destaca o guia da formação de conselheiros, a responsabilidade ética e a integridade são pilares inegociáveis da função
Diversidade e inclusão não são apenas tendências, mas elementos estruturantes de uma governança eficaz. Empresas que abraçam essa agenda nos conselhos colhem resultados não só em performance, mas na construção de uma reputação sólida, moderna e alinhada ao seu tempo.
A pergunta que fica para os conselheiros e decisores é: o quanto seu conselho reflete o mundo que a empresa deseja impactar?
